segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Normalmente...






Houve uma época em que eu pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse — eu te amo —, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma.

Por aí já se vê como esse negócio de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer, no entanto, que o amor é um sentimento radical — falo do amor-paixão — e é isso que aumenta a complicação. Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das tempestades? Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre em torno de seu oculto núcleo de fogo.

O amor é, portanto, na sua origem, liberação e aventura. Por definição, anti-burguês. O próprio da vida burguesa não é o amor, é o casamento, que é o amor institucionalizado, disciplinado, integrado na sociedade. O casamento é um contrato: duas pessoas se conhecem, se gostam, se sentem a traídas uma pela outra e decidem viver juntas. Isso poderia ser uma COisa simples, mas não é, pois há que se inserir na ordem social, definir direitos e deveres perante os homens e até perante Deus. Carimbado e abençoado, o novo casal inicia sua vida entre beijos e sorrisos. E risos e risinhos dos maledicentes. Por maior que tenha sido a paixão inicial, o impulso que os levou à pretoria ou ao altar (ou a ambos), a simples assinatura do contrato já muda tudo. Com o casamento o amor sai do marginalismo, da atmosfera romântica que o envolvia, para entrar nos trilhos da institucionalidade. Torna-se grave. Agora é construir um lar, gerar filhos, criá-los, educá-los até que, adultos, abandonem a casa para fazer sua própria vida. Ou seja: se corre tudo bem, corre tudo mal. Mas, não radicalizemos: há exceções — e dessas exceções vive a nossa irrenunciável esperança.

Conheci uma mulher que costumava dizer: não há amor que resista ao tanque de lavar (ou à máquina, mesmo), ao espanador e ao bife com fritas. Ela possivelmente exagerava, mas com razão, porque tinha uns olhos ávidos e brilhantes e um coração ansioso. Ouvia o vento rumorejar nas árvores do parque, à tarde incendiando as nuvens e imaginava quanta vida, quanta aventura estaria se desenrolando naquele momento nos bares, nos cafés, nos bairros distantes. À sua volta certamente não acontecia nada: as pessoas em suas respectivas casas estavam apenas morando, sofrendo uma vida igual à sua. Essa inquietação bovariana prepara o caminho da aventura, que nem sempre acontece. Mas dificilmente deixa de acontecer. Pode não acontecer a aventUra sonhada, o amor louco, o sonho que arrebata e funda o paraíso na terra. Acontece o vulgar adultério - o assim chamado -, que é quase sempre decepcionante, condenado, amargo e que se transforma numa espécie de vingança contra a mediocridade da vida. É como uma droga que se toma para curar a ansiedade e reajustar-se ao status quo. Estou curada, ela então se diz — e volta ao bife com fritas.

Mas às vezes não é assim. Às vezes o sonho vem, baixa das nuvens em fogo e pousa aos teus pés um candelabro cintilante. Dura uma tarde? Uma semana? Um mês? Pode durar um ano, dois até, desde que as dificuldades sejam de proporção suficiente para manter vivo o desafio e não tão duras que acovardem os amantes. Para isso, o fundamental é saber que tudo vai acabar. O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive, como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe, cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espírito humano não comporta tanta realidade, como falou um poeta maior. E enxugados os olhos, aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos. O alívio se confunde com o vazio, e você agora prefere morrer.

A barra é pesada. Quem conheceu o delírio dificilmente se habitua à antiga banalidade. Foi Gogol, no Inspetor Geral quem captou a decepção desse despertar. O falso inspetor mergulhara na fascinante impostura que lhe possibilitou uma vida de sonho: homenagens, bajulações, dinheiro e até o amor da mulher e da filha do prefeito. Eis senão quando chega o criado, trazendo-lhe o chapéu e o capote ordinário, signos da sua vida real, e lhe diz que está na hora de ir-se pois o verdadeiro inspetor está para chegar. Ele se assusta: mas então está tUdo acabado? Não era verdade o sonho? E assim é: a mais delirante paixão, terminada, deixa esse sabor de impostura na boca, como se a felicidade não pudesse ser verdade. E no entanto o foi, e tanto que é impossível continuar vivendo agora, sem ela, normalmente. Ou, como diz Chico Buarque: sofrendo normalmente.

Evaporado o fantasma, reaparece em sua banal realidade o guarda­roupa, a cômoda, a camisa usada na cadeira, os chinelos. E tUdo impregnado da ausência do sonho, que é agora uma agulha escondida em cada objeto, e te fere, inesperadamente, quando abres a gaveta, o livro. E te fere não porque ali esteja o sonho ainda, mas exatamente porque já não está: esteve. Sais para o trabalho, que é preciso esquecer, afundar no dia-a-dia, na rotina do dia, tolerar o passar das horas, a conversa burra, o cafezinho, as notícias do jornal. Edifícios, ruas, avenidas, lojas, cinema, aeroportos, ônibus, carrocinhas de sorvete: o mundo é um incomensurável amontoado de inutilidades. E de repente o táxi que te leva por uma rua onde a memória do sonho paira como um perfume. Que fazer? Desviar-se dessas ruas, ocultar os objetos ou, pelo contrário, expor-se a tudo, sofrer tudo de uma vez e habituar­se? Mais dia menos dia toda a lembrança se apaga e te surpreendes gargalhando, a vida vibrando outra vez, nova, na garganta, sem culpa nem desculpa. E chegas a pensar: quantas manhãs como esta perdi burramente! O amor é uma doença como outra qualquer.

E é verdade. Uma doença ou pelo menos uma anormalidade. Como pode acontecer que, subitamente, num mundo cheio de pessoas, alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa? E reparando bem, tirando o rosto que era lindo, o corpo não era lá essas coisas... Na cama era regular, mas no papo um saco, e mentia, dizia tolices, e pensar que quase morro!...

Isso dizes agora, comendo um bife com fritas diante do espetáculo vesperal dos cúmulos e nimbos. Em paz com a vida. Ou não.

O texto acima foi extraído do livro "A estranha vida banal",  editora José Olympio - 1989, e consta da antologia "As 100 melhores crônicas brasileiras", Editora Objetiva, pág. 279 - Rio de Janeiro - 2005,  organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"Ai que vida boa, ô lerê, ai que vida boa, ô lará!

"Vai passar nessa avenida um samba popular" (Chico Buarque)

O carnaval e a carnavalização 
"Dialética e sensibilidade fazem emergir um mundo de alegria, de prazer sem culpa, despido de repressão e de hierarquias e onde todos são iguais, presente no período da festa, mais precisamente na maior delas – o carnaval. O que estimula pensar-se na possibilidade de extrapolação daquele momento e de concretização no quotidiano de uma sociedade marcada pelo riso que jamais seria um instrumento da opressão." (SOIHET, 1998, p. 9)
O sagrado e o profano, o nascimento e a morte, a elevação e o rebaixamento são elementos presentes nessa festividade, momento em que os opostos convivem em um mesmo universo e de forma cômica, através do riso carnavalesco. Esse riso difere do riso individual proveniente de um fato cômico isolado, pois no carnavalesco todos riem, o riso é "geral" e patrimônio do povo. É também universal, pois atinge todas as coisas e pessoas, inclusive as que participam do carnaval (BAKHTIN, 1987, p. 10). O riso carnavalesco é ambivalente, pois, ao mesmo tempo em que nega, afirma, é alegre e simultaneamente sarcástico, amortalha e ressuscita. Para Bakhtin, no carnaval, não há distinções sociais e/ou outras, o que ocorre são inversões da ordem das coisas e da vida; tais inversões, aliadas à abolição das fronteiras das hierarquias sociais, marcam o efeito denominado por Bakhtin carnavalização. Rituais sagrados são parodiados, os bufões são coroados reis, até mesmo a linguagem é afetada por essa eliminação provisória da ordem do mundo.
[...] todas as formas e símbolos da linguagem carnavalesca estão impregnados do lirismo da alternância e da renovação, da consciência da alegre relatividade das verdades e autoridades no poder. Ela caracteriza-se, principalmente, pela lógica original das coisas "ao avesso", "ao contrário", das permutações constantes do alto e do baixo ("a roda"), da face e do traseiro, e pelas diversas formas de paródias, travestis, degradações, profanações coroamentos e destronamentos bufões (BAKHTIN, 1987, p. 9-10).
"Seus filhos erravam cegos pelo continente, levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais." – Chico Buarque
A festa oficial – com privilégios, regras, hierarquias, tabus e etiquetas – é parodiada pelo carnaval, de forma a utilizar esses elementos de ostentação e subvertê-los, rebaixando-os com a licença do riso. No Brasil, Queiroz (1992) e Matta (1981) destacam que a festa carnavalesca é um momento de catarse popular que é permitido e controlado pela classe dominante, a fim de manter sua hegemonia. Por esse ponto de vista, o carnaval seria, então, uma liberdade popular restrita a limites preestabelecidos e controlados pela classe dominante. Contudo, segundo Soihet (1998), muitos historiadores combatem tal acepção, pois existem muitas estratégias de resistência dos populares no campo cultural em relação às proposições das classes dominantes. Bakhtin, entretanto, não aposta nessa ideia de liberdade restrita a anseios da elite. Ao contrário, o autor russo propõe o carnaval como um momento de igualdade entre os indivíduos, em que as diferenças hierárquicas são abolidas em função da força regeneradora criadora do riso carnavalesco.
"Um dia página infeliz da nossa história, passagem desbotada da memória (...)  Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações" – Chico Buarque

No caso brasileiro, o carnaval proporciona esse relacionamento entre classes com relativa igualdade, porém em um período de tempo limitado ao desfile na passarela do samba. Após desfilar na avenida, na maioria das vezes, a elite dirige-se ao camarote, à bancada restrita à classe alta, enquanto os pobres tomam rumos ignorados pela grande mídia, apenas fazendo volume nas alas e arquibancadas. Com isto, o conceito de eliminação provisória das barreiras hierárquicas apontadas por Bakhtin no contexto rabelaisiano também é válida no contexto brasileiro, já que é possível observar tal fenômeno em situações como nos desfiles das escolas de samba. Mas, como o próprio Bakhtin indica, tal eliminação de classes é provisória, sendo logo após o evento, restaurada.

"Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações

Seus filhos erravam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar"

(Vai passar - Chico Buarque) 

Fica a dica:
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: HUCITEC, 1987.  
MATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 



domingo, 24 de julho de 2011

O bom veneno


"o bom veneno é amargo
e os melhores vem em pequenos frascos
o bom veneno é rascante
seu ventre queima, seus dentes rangem
pois o começo é sempre ligado ao fim
de algo bom ou de algo ruim
o bom veneno traz a morte certa
sem deixar rastro, sem deixar provas
o bom veneno é um drinque
se faz um brinde, se comemora
o bom veneno deve ser assim" (Nina Becker)


O mundo (musical) não será o mesmo sem AmyWinehouse. Mesmo com sua passagem  meteórica pelo planeta Terra, Amy deixou muita gente órfã de boa musica. Sim, por que hoje em dia isso é artigo em falta no mercado. "Back to black"!!!!
Um dos melhores discos produzidos nos últimos anos! Eu quero maaaais! Pena! Agora já é tarde... lá se foi uma diva. Tenho certeza que muita gente também ainda queria ouvir bastante essa voz que não conseguia sair do black.

Não sei, mas quem sabe, agora, as pessoas que gostam de música, busquem uma forma de salvar essas espécies raras, sei lá, fundem uma ONG internacional que proteja espécies artísticas ameaçadas de extinção, (se é que ainda existem). Quem sabe assim, elas consiguam tolerar melhor a existência, com menos drogas, e possam viver mais tempo mais tempo entre nós. Se não... tudo bem, continuem morrendo de overdose, afinal, o legado artístico que eles conseguem deixar, os tornam imortais mesmo!
 
Só sei que do lado de lá, o bicho deve tá pegando... imaginem a recepção que a turma lá não deve ter armado pra receber Amy Winehouse! Por ela aguardavam a Janis, o Hendrix, Elvis Presley,  Jim Morrison, Cássia Eller, Chico Sciense, Cazuza, Raulzito... Turma boa não? rsrs
 
 

Pra sempre!


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vamos lendo... vamos pensando...

“J’ACUSE!!!
Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.”
(Émile Zola)
Eu acuso!!! Meu dever é falar, não quero ser cúmplice.
Centenas e centenas e cetenas são os casos de desacato, de desrespeito, de descaso e sobretudo de desvalorização da figura tanto profissional quanto humana do professor.  Pelo Brasil afora, as ameças constantes, professores são agredidos, professores são espancados, professores são assassinados!
O mais recente caso, pelo menos, o noticiado pela mídia, ocorreu no dia 15 de junho em uma escola estadual da zona sul de São Paulo. A vítima foi da professora Gina, de 58 anos, covardemente espancanda por uma “mãe” vejam bem, uma “mãe” de um “aluno”, dentro da escola.
Em 2010, o professor Kassius Vinícius Castro Gomes, do Instituto Metodista Izabela Hendrix em Belo Horizonte, foi assassinado a facadas, por um aluno do curso de Educação Física.
Como epsódios de violência contra professores têm ocorrido em tempo cada vez mais freqüente, de modo pertubador,  causando perplexidade e indignação quero compartilhar o texto escrito pelo professor Igor Pantuzza, sobre a morte do professor Kassius.

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos,
desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um
estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas,
alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando
para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do
estudante foi ter que... estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças
constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada
por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser
outro.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com
seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas
eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem
tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A
promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras
de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e
imperativo de convivência supostamente democrática.
No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era
proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”.
A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas
difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”.
Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu
conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é
o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está
pagando...
E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral
epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo
vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos
que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter
conhecimento é ser ‘crítico’.”
Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto
e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a
mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina
é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao
aluno – cliente...
Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de
nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados
para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar
com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o
mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma
faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um
professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter,
sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os
direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à
ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do
que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido
processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada
pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio
covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao
célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por
trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo
e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam
a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles
que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do
politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves
no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres
para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e
doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a
dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a
avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em
nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a
proliferação de cursos superiores completamente sem condições,
freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de
diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade
com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras
missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez
menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge
que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje
vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus
alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar
estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com
segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela
massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que
ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e
moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito”
de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo
para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”,
uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa
e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas,
à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um
ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina
é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se
tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e
vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos
políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO
os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de
aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores
que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou
pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas
desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua
omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável
pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes,
serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados
e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício
da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e
decepções do dia a dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza,
estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e
essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível
que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na
cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota
baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do
patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato,
a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima.
O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua
vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita
raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora,
fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo.
Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil
no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte
não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira
e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova
cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é
fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade,
responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mexeu com o idoso, mexeu comigo!



O Dia 15 de Junho de 2006 foi declarado pela ONU, em parceria com o INPEA (International Network for the Prevention of Elder Abuse – www.inpea.net), "Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa" com o principal objetivo de sensibilizar a sociedade civil sobre as mais diversas formas de violências que as pessoas idosas sofrem em seus lares, nas instituições ou nos espaços públicos. No Brasil, desde o ano de 2006 temos acompanhando as várias iniciativas que os órgãos públicos, as instituições e a sociedade civil têm desenvolvido no dia 15 de Junho ou nos outros dias do mês, realizando atividades que chamam a atenção sobre a violência contra as pessoas idosas. O Portal do Envelhecimento tem publicado em suas páginas as diversas ações e manifestações que acontecem pelo "Brasil a fora".


 Apesar da existência da Declaração Universal de Direitos Humanos, os direitos das pessoas idosas não são expressamente reconhecidos nas normas obrigatórias dos direitos humanos internacionais pelos Estados membros da ONU.  Veja mais sobre este assunto no link: http://www.portaldoenvelhecimento.net/direito/direito218.pdf




A atenção às pessoas idosas não é generosidade, é gratidão
 Outro destaque  ser dado no Dia 15 de Junho é à importância da notificação dos casos suspeitos ou confirmados de violência contra a pessoa idosa. Os profissionais ainda não incorporaram a determinação do Estatuto do Idoso sobre a notificação da violência. Informe-se no seu Município sobre a Ficha de Notificação e quais são os procedimentos para a Notificação. A violência contra os idosos deve ser entendida como uma grave violação aos Direitos Humanos. A lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) prevê no artigo 19 que os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra o idoso são de notificação obrigatória ao Conselho Municipal, Delegacias de Polícia e Ministério Público. A recusa ou omissão de cuidados devidos e necessários aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou institucionais, é considerada negligência.

 Por fim, gostaríamos de lembrar que o Dia 15 de Junho é proclamado como o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, conforme propôs a ONU e o INPEA. Sabemos porém que não se "combate" ou não se "luta" contra a violência apenas num dia. O processo deve ser contínuo, todos os dias.




Abraço caloroso a todas essas pessoas tão cheias de experiências
e que tanto têm a nos ensinar.
Que Deus abenções e proteja cada uma delas.
 E que nós façamos, com muito amor, a parte que nos cabe.




 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Para o meu Amor!


pintura "Na roda-gigante" por Tatti Simões
 "De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É o astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura. 
          Amor não teme o tempo, muito embora
          Seu alfange não poupe a mocidade;
          Amor não se transforma de hora em hora,
          Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou."


William Shakespeare

Para que o clima amoroso permaneça e nos faça lembrar que todo dia,é dia de viver o Amor!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Carta III ( De Fernando para Clarice)



“A arte não nos satisfaz porque não passa disso: é o testemunho de nós mesmos. Estou fuçando vago, e ultimamente ando cada vez mais tolerante com a vaguidão das palavras”. (...) Tudo o que tenho feito cada vez corresponde menos ao que eu queria fazer. O falso romantismo da criação dá lugar a fragilidades, ao doloroso processo que a envolve."